SINOPSE
RESUMO DA ÓPERA – O livro Resumo da Ópera é o 5º da coleção Contos Estranhos, lançada pelo escritor Eduardo Mahon. Na obra, o autor reúne uma antologia de textos curtos já publicados ao longo da carreira, retirados dos livros Doutor Funéreo, Contos Estranhos e Azul de Fevereiro. Mahon reforça a preferência pelo realismo mágico, oferecendo ao leitor saborosas situações de perplexidade e ironia.
EDSON FLÁVIO
Resumo da Ópera ou o crème de la crème de Eduardo Mahon
Edson Flávio Santos
Doutor em Estudos Literários
Núcleo Wlademir Dias-Pino (PPGEL/Unemat)
Uma incrível seleção de contos já publicados anteriormente (em livros do autor ou postagens em sua rede social) compõe essa ópera, no sentido mais arquitetônico do termo. Resumo da Ópera integra a Coleção Contos Estranhos, com lançamento previsto para hoje, às 19h no canal do escritor.
A seleção é feita desde as sombrias histórias de Doutor Funéreo e outros contos de morte (2014), passando por Contos Estranhos (Weird Tales, 2017), chegando até Azul de Fevereiro (2018), livro que faz parte da Coleção Carandá, que reúne diversos escritores de Mato Grosso em comemoração aos 20 anos da Editora Carlini & Caniato em uma box de cair o queixo de tão linda.
O que todos os contos da Ópera têm em comum? Lógico que é preciso lê-los, mas deixo-vos uma dica: são estranhos, muito estranhos.
O sommario dell’opera de Eduardo Mahon reconstrói o próprio percurso do escritor ao longo do espraiado caminho de sua literatura que alcança hoje diversos níveis da crítica acadêmica.
Com mais de duas dezenas de livros publicados, o autor consolida, a cada ano, a proficuidade de sua escrita que abraça não somente os “contos estranhos”, mas o romance, a poesia, o teatro, o cinema e a crítica literária. Falta-me saber se o autor dança bem. Quanto a cantar, a intimidade permite-me saber que Eduardo Mahon entende de música e seu repertório musical serve-lhe de mote em muitas ocasiões, mas isso é assunto para a resenha de um outro livro.
Dos trinta e um contos selecionados para essa Ópera, haveria muitos detalhes a serem destacados. Os narradores e personagens desdobram-se nas páginas do livro como habitantes conhecidos do universo mahoniano já existente: homem sem sombra, uma mulher com olho que funciona como uma webcam, uma criança que o cabelo nunca para de crescer, e por aí vai.
O leitor desta resenha que não é um resumo encontrará uma rede de comunicabilidade com outros textos fundamentais, diriam alguns críticos da literatura.
Propositalmente, ou não, a escrita de Eduardo Mahon é constituída por um arsenal de personas que parecem estranhas conhecidas nossas, como é o caso d’ A menina que roubava cores, que eu considero uma versão às avessas d’ O menino do dedo verde (1957), de Maurice Druon. Assim como Aroma da Vergonha, que me faz lembrar d’ As flores de Novidade, de Mia Couto (Estórias Abensonhadas,1994), e ainda o menino Ciro de Contando estrelas, que me parece irmão de Nhinhinha, de Guimarães Rosa, da obra Primeiras estórias (1962). Toda essa “carga literária” se derrama no Resumo da Ópera.
O quinto livro da Coleção Contos Estranhos (2020), lançada hoje, faz parte de um projeto que alcança o leitor contemporâneo com sua pressa, não de leitura – talvez sim, por que não? Uma pressa do tempo que escorre pelas mãos.
Pinçados de um universo muito maior, os contos do Resumo da Ópera não condensam e nem resumem a extensa produção deste autor, todavia revelam-se como um deleite prévio: o crème de la crème, que está por cima e revela as delícias subjacentes a camada saborosa que nos é apresentada.
Eduardo Mahon, através da Carlini & Caniato editorial, entregam ao leitor a Coleção Contos estranhos que, sem sombra de dúvida, cumprirá “a seu modo o destino da ficção contemporânea” como já dizia o grande crítico Alfredo Bosi (1975) que nos deixou há uma semana.
De Azul de Fevereiro a Despeito, os contos mahonianos conduzem o leitor para situações improváveis, que se revelam possíveis dentro do universo fantástico criado pelo autor. Um destaque para questões corpóreas como: o olho, o cabelo, a pele. As cenas corriqueiras arquitetadas pelo contista dividem a atenção do leitor entre real e o insólito.
O espelho, muito presente nos contos, “revela” muito essa transição entre o eu e o outro, ou a imagem aprisionada no espelho. Afinal “olhamos muito mais para os outros do que para nossa própria imagem” (p 63).
Dentro dessa ambiência mahoniana nem tudo é impossível ou inverossímil como comprar sonhos ou um arco-iris. “O amor é caro”, diz o autor na página 65, e não posso dizer que isso não seja uma verdade. O amor é caro, e é raro, sobretudo nos contos de Eduardo Mahon, onde descortinam-se personagens afetuosos e devotados, mas não há uma representação do amor como costumava-se “esperar” dos textos literários. Será que esse costume desmudou? Há alguém que espere por isso ainda hoje? Amar é estranho?
Esta resenha é um convite, mas não apenas para a leitura de um único livro: leia toda a Coleção Contos Estranhos, todinha, leia!
Se já “não há garantias para arco-iris” (p.40), nos contos do Resumo da Ópera a única coisa certa e confirmada é a qualidade de um promissor escritor e seus muitos e tantos livros.